03 de janeiro de 2024

Confira quatro apostas do setor de educação para este ano

O setor de educação é um dos mais sensíveis diante do olhar e das perspectivas de melhora do país nos próximos anos, sobretudo quando analisamos a inconclusão da reforma do novo ensino médio.

Veja a análise do Vice-presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Educação Básica do Município do Rio de Janeiro (Sinepe Rio), Pedro Flexa Ribeiro, de quatro apostas para o segmento em 2024.

1- Cobranças e expectativas:

Previsibilidade é fundamental em qualquer tempo. O que se espera do trabalho das escolas é coerência em relação ao que estava previsto. É importante ter isso em mente, porque, ao longo dos últimos anos, o Brasil amadureceu dois importantes patrimônios no campo da educação: a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) e os processos de avaliação, com destaque para o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e o Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica).

A BNCC, que norteia os currículos das escolas do país e garante direitos de aprendizagem às crianças e aos adolescentes, não pode passar por revisões prematuras. Tanto ela quanto os processos de avaliação devem ser aperfeiçoados, mas de forma coerente e consistente com os seus propósitos. Não são políticas de governo, mas sim de Estado.

Agora em curso, temos a Reforma do Ensino Médio, que começou a ser implementada em 2022 e que depende da BNCC. Há dois anos, estudantes brasileiros desse segmento começaram uma nova trajetória, com a promessa de uma flexibilização do currículo, para que pudessem escolher no que gostariam de se aprofundar. Eles têm direito a que suas expectativas sejam correspondidas. Não podemos mudar a rota de uma hora para outra.

2- Focos de atenção:

Assegurar a continuidade da Reforma do Ensino Médio. Ela trouxe, finalmente, condições para que as escolas pudessem discernir como proporcionar uma trajetória relevante aos alunos que atendem. Educar é um processo que se estabelece entre gerações, os mais velhos preparando o terreno e abrindo caminho para os mais jovens. O interesse da sociedade brasileira está no fato de que os responsáveis pela oferta de ensino tenham condições de propor o que realmente convém ao contexto em que atuam e às perspectivas dos seus estudantes.

Assim, o governo deve à sociedade a publicação da matriz do Enem. A reforma curricular do Ensino Médio foi feita, tanto pelas escolas públicas, quanto pelas particulares. Os alunos estão prontos, todos estão à espera do que será de fato cobrado no exame de 2024, que deve estar em consonância com as mudanças feitas desde 2022.

3- Modelo híbrido:

Vivemos uma revolução midiática e isso convoca as instituições de ensino a reagir em tempo real ao impacto dessas tecnologias que se fazem presentes, muitas vezes à nossa revelia. Ao mesmo tempo, são possibilidades tecnológicas que podem tornar mais contemporânea a escola onde vão estudar as próximas gerações. As instituições não devem virar as costas para essas possibilidades. Passada a pandemia, podemos amadurecer em cada sistema de ensino o quê aprendemos com o ensino remoto. A experiência oferecida pelas escolas se fará contemporânea das novas gerações, na medida em que venham a ser amadurecidas “metodologias híbridas” que sejam dignas do nome, além de eficazes, calibrando adequadamente momentos síncronos e atividades assíncronas.

Isso se aplica, principalmente, para alunos a partir do Ensino Fundamental II e do Ensino Médio. Para as faixas etárias menores, há a necessidade do concreto, não cabem as telas.

4- Inteligência artificial:

A mesma reflexão sobre a metodologia híbrida se aplica ao advento da Inteligência Artificial. De agora em diante, a formação das próximas gerações precisa incluir o aprimoramento da competência humana de interagir e gerir a inteligência artificial. A cultura de controle e centralização, que desde sempre caracterizou o sistema educacional brasileiro, padroniza e impede inovações. A formação das próximas gerações de brasileiros, no entanto, requer que o ambiente educacional avance.

Há um ano, o ChatGPT se popularizou, e ele não vai embora em 2024. Muito pelo contrário, vai apenas avançar. A questão é como vamos preparar as próximas gerações para usar essa e outras tecnologias de maneira responsável e eficaz. Sem esquecer, é claro, de uma formação de professores específica para esse campo.

Matéria originalmente publicada no site 96,5 tupi fm